segunda-feira, 30 de julho de 2012

VIVER IGREJA – UMA ARTE A SER REDESCOBERTA

Atos 2:42-47

Muitas vezes ficamos sem entender por que alguns dos nossos amigos não frequentam a igreja conosco. Por que a igreja deixou de ser um lugar atraente? Por que temos nos tornado um povo comum que não brilha como uma luz nesse mundo encharcado por trevas? Por que Deus não instiga pessoas a visitarem e permanecerem na igreja onde congregamos?

Foram perguntas desse tipo que me levaram a reestudar um texto por demais conhecido que mostra a todos nós o que é viver igreja.

Vejamos algumas lições preciosas da igreja do início:

Como vivia a igreja no início?

1. Havia reverência entre todos aqueles que faziam parte da igreja – v.43

“Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos”.

Deus agia no meio da igreja e, sabendo quem era esse Deus, havia temor em cada coração. Por que milagres não acontecem com facilidade entre nós? Deus mudou? Podemos dizer a mesma frase hoje em dia – “em cada alma havia temor”?

Levar Deus a sério é uma necessidade da igreja atual. Gl 6:7 Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Parece que esquecemos que postura de irreverência diante de Deus traz consequências. A Bíblia mostra alguns exemplos: Irreverência diante das coisas sagradas – Uzá – 2 Sm 6:7 Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus; Irreverência diante da adoração – Nadabe e Abiú – Lv 10:1,2; Irreverência diante das ofertas consagradas a Deus – Ananias e Safira – At 5

Deus continua sendo Deus e o que impede a manifestação do seu poder nosso meio são os nossos pecados, a nossa postura relaxada e displiscente. Is 59:2 Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça. Falta em nós o temor, falta em nós o desejo de experimentar o Deus todo-poderoso se manifestando no nosso meio. Falta em nós o mesmo desejo que havia no coração de Moisés – “mostra-me a tua glória”. Sobra em nós a postura de Israel ao pedir a Moisés que peça a Deus que não fale com eles, mas que seja Moisés o interlocutor.

Havia temor no culto, havia temor na vida, havia temor em todo o tempo. Todos reverenciavam a Deus e diante de todos Deus manifestava o seu poder.

2. O prazer da comunhão era vivenciado por todos – v.44a

“Todos os que creram estavam juntos”

Eu li uma frase no blog “Auxílio ao Mestre” que me chamou a atenção: “A comunhão da igreja não é um mero ajuntamento de pessoas, é o relacionamento espiritual e pessoal dos santos, sob a ação do espírito Santo”. (Francisco Barbosa)

Comunhão é pilar da igreja. É ter prazer de estar junto; é parceria; é alegria em compartilhar as mesmas ideias. A expressão bíblica para comunhão é koinonia. E você só consegue viver essa koinonia se nascer de novo em Cristo Jesus.

Jesus orou por isso. Jo 17:20,21 Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.

É inconcebível estar no mesmo ambiente com pendências em relacionamentos - 1Co 1:10 Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.

Viver juntos, no padrão bíblico, traz implicações sérias e novas posturas. Veja o que diz Paulo em Fp 2:2-4 completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.

Isso é comunhão – mesmo pensamento (mesmos objetivos); mesmo amor (amor sacrificial que se entrega); mesma alma (verdadeira empatia); mesmo sentiment (sem hipocrisia e falsidade tendo a verdade como guia de todos os relacionamentos); sem partidarismo ou vanglória (sem preferências e sem interesses pessoais evidentes); sempre colocando o próximo em um patamar de maior valor e buscando primeiro o interesse dele e não o nosso.

3. Suprir as necessidades dos irmãos era uma ocupação comum na igreja – v.44b

“e tinham tudo em comum”

A preocupação com o irmão, o interesse em ajudar era visível na igreja. Eram pessoas vivenciando os mandamentos recíprocos; eram pessoas vivendo como corpo de Cristo (se um membro sofre, todo o corpo sofre junto).

A ordem de Paulo é clara – Colossenses 3.12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Também em Romanos 12:13 compartilhai as necessidades dos santos;

Não tem como não ser atraído e não gostar de estar em um ambiente assim. Não há como viver igreja se estou fechado no meu mundo pessoal. Somos corpo e membros uns dos outros. Só conseguiremos viver igreja se estivermos dispostos a suprir as necessidades uns dos outros.

4. Tinham as suas finanças à disposição de Deus – v.45

“Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade”.

Todos os bens estavam à disposição de Deus. Havendo necessidade eles faziam algo para suprir essas necessidades. Dinheiro para aquela igreja não era uma espécie de “segurança” para o futuro, mas um instrumento de bênção na vida de quem precisava. A gente luta em entregar o dízimo a Deus. Experimente ultrapassar essa quantia e, além de entregar o dízimo, disponibilizar os 90% restantes para usar do jeito que Deus quiser.

Quando o assunto é finanças, Richard Foster sugere algumas práticas que podem ser experimentadas por todos nós quanto ao dinheiro:

a. Aprenda a usar o dinheiro e não servi-lo - Ao cristão é dada a elevada vocação de usar a Mamon sem servir a ele. Estaremos servindo a Mamon quando permitimos que este determine as nossas decisões financeiras. Pode ser que meu dinheiro me diga: “Você tem o suficiente para comprar isso”, mas meu Deus pode dizer: “Não quero que você compre isso”. A quem vou obedecer? Esse é o ponto.

b. Entre em contato com os seus sentimentos acerca do dinheiro - O maior obstáculo não é o de compreender o que a Bíblia diz sobre o dinheiro, mas o de chegarmos a um acordo com o nosso medo, insegurança e culpa acerca do dinheiro. Sentimo-nos realmente ameaçados por esse assunto – tememos ter muito pouco e tememos ter demais. Um estilo de vida restaurado talvez pudesse conter as palavras que estão no livro de Provérbios 30:7-9 Eu te peço, ó Deus, que me dês duas coisas antes de eu morrer: não me deixes mentir e não me deixes ficar nem rico nem pobre. Dá-me somente o alimento que preciso para viver. Porque, se eu tiver mais do que o necessário, poderei dizer que não preciso de ti. E, se eu ficar pobre, poderei roubar e assim envergonharei o teu nome, ó meu Deus.

c. Por um ato consciente da vontade, deixe de negar a sua riqueza - Não estamos incluídos na lista dos 50 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da miséria. Aqueles que possuem um carro estão situados na classe alta do mundo. Os que possuem casa própria são mais ricos do que 95% de todas as pessoas deste planeta. Embora a maioria de nós tenha dificuldade em equilibrar o orçamento, precisamos reconhecer que, como cidadãos do mundo, estamos entre os muito ricos.

d. Criemos uma atmosfera na qual a confissão se torne possível - Para que a igreja funcione como igreja, ela precisa criar um ambiente no qual os nossos fracassos acerca do dinheiro possam vir à tona e sermos curados. Num ambiente assim ouviremos orações do tipo: “Perdoa-me Senhor porque o dinheiro capturou meu coração”. O dinheiro é uma questão espiritual e a oração é a arma principal na vida do espírito. Oremos uns pelos outros, façamos também orações preventivas.

e. Descubra uma pessoa que está ao seu lado na luta para atravessar o labirinto do dinheiro - O ideal é que o marido e a esposa estejam juntos nessa caminhada. Mas esteja aberto para ajudar a outros irmãos nesse sentido.

f. Descubra maneiras de se manter em contato com os pobres - O distanciamento dos pobres não nos deixa contemplar a sua dor. É aí que surge o mundo ilusório nos nossos corações. Podemos fazer uma escolha consciente de estar com os pobres, não de pregar a eles, mas de aprender com eles.

g. Experimente o significado da renúncia íntima - Quando entramos na renúncia entendemos que nada temos apesar de tudo estar à nossa disposição. 2 Co 6:10 ...nada tendo, mas possuindo tudo.

h. Faça donativos com coração alegre e generoso - Dar tem o poder de arrancar o sovina que mora dentro de nós.

i. Reavalie a sua visão acerca do trabalho e dos negócios - Como servos do Deus vivo afirmemos que o trabalho é um bem e uma necessidade. 2 Ts 3:10Se Quem não quer trabalhar que não coma". Afirmemos trabalho que valorize a vida humana e repudiemos trabalho que destrua a vida humana. Precisamos ter fixado em nós que o valor humano está acima do valor econômico. Para isso precisamos aprender que o empregado é mais do que apenas custo de produção. Precisamos recusar a possibilidade de nos aproveitar do nosso semelhante. Se é para pagar, pague o justo.

5. A devoção era prática constante em toda a igreja – v.46a

“Diariamente perseveravam unânimes no templo”

A expressão presente no texto tem duas possibilidades: ou participavam de um encontro diário no átrio do templo ou participavam dos rituais que diariamente aconteciam no templo com ofertas, holocaustos e sacrifícios. Seja o que for, a devoção era diariamente praticada. Havia sempre culto a Deus.

Os pilares dessa igreja são apresentados no v.42 – doutrina dos apóstolos (conhecimento e estudo da Bíblia); oração; comunhão e Partir o pão (Santa Ceia – aliança com Deus)

Falta devoção nos nossos dias. Poucos têm prazer pela leitura bíblica, pela oração. A gente consegue ver numa simples conversa quem cresce em devoção e quem continua na mesmisse espiritual sem nada a acrescentar.

6. Abriam as suas casas para vivenciar celebrações – v.46b

“partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração”

Havia muita alegria na vida daquele povo. Singeleza de coração pode ser traduzido por generosidade, franqueza e espírito aberto que caracteriza a comunhão cristã. A gente pode viver igreja com alegria e singeleza de coração em nossas casas: Praticando a hospitalidadeRomanos 12.13 compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; Hebreus 13.2 Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos; Promovendo encontros facilitadores – convidando amigos como fez Levi – convidou amigos e Jesus; Abrindo as nossas casas para o grupo pequeno – grupo pequeno é a igreja em sua casa.

Os grupos pequenos na Bíblia eram usados como estratégia evangelística – Atos 5:42 E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo. A perseguição da igreja aconteceu nesses grupos pequenos – Atos 8:3 Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere. Batismos aconteciam nas casas, como no caso de Saulo (9:17-19), de Cornélio e os de sua casa (10:47,48), e do carcereiro de Filipos (16:30-33). É como nós fazemos hoje na CPA. Repetidas vezes, no final de suas cartas, Paulo manda uma saudação à igreja que se reunia em uma ou outra casa.

Quando você vai deixar que a sua casa se torne um local onde Deus manifesta o seu poder para salvar e restaurar vidas? Um dia alguém resolveu abrir a sua casa e teve o privilégio de ter um dos maiores acontecimentos da história naquele lugar – a desida do Espírito Santo aconteceu em uma casa. Quantos ainda não abrem as suas casas para um grupo pequeno se reunir lá. Não espere que alguém peça. Convide amigos, vizinhos e familiares e reuna-se um dia para juntos louvarem a Deus, estudarem a Bíblia e orarem uns pelos outros. Deus fará grandes coisas na sua casa.

7. Estavam atentos aos de fora – v.47a

A igreja contava com a simpatia de todos. Era gente agradável e que dava atenção devida aos de fora. A gente pode viver isso no nosso dia a dia: Na comunhão estabelecida nos relacionamentos íntegros – nossos amigos precisam da nossa amizade; No nosso testemunho por onde andamos – a forma como nos comportamos pode se tornar atração ou repulsa para aqueles que estão fora; Descobrindo o prazer de estar congregado com os demais irmãos e convidando com mais empenho; Orando pelos nossos amigos até que a obra de Cristo seja formada neles.

A conclusão do texto: Deus indicava aquela igreja como um bom local para participar – v.47b

É Deus quem melhor convida. Ele sabe qual a igreja que está pronta para receber quem ele quer ministrar e transformar.

A pergunta é: Deus tem prazer em nós? Ele se sente bem conosco? Se o nosso objetivo for construir uma igreja onde Deus tenha prazer de estar, veremos grandes coisas acontecendo no nosso meio.

Não precisamos inventar ou reinventar coisa alguma. Precisamos apenas viver igreja, como nos ensina as Escrituras. Isso é o suficiente para agradar a Deus e, assim, assistir Ele definindo que na nossa igreja as pessoas encontrarão vida. Ele mesmo convidará as pessoas.

Viva Igreja. Só isso!

Boa semana

Ricardo Carvalho



Nenhum comentário:

Postar um comentário