
Daniel 1
Vivemos um dos momentos mais preocupantes da história do cristianismo. Os valores absolutos estão se tornando praticamente extintos e o pensamento individual tem se tornado verdade absoluta na vida de cada indivíduo. Cada um declara abertamente a sua opção sexual, espiritual, filosófica, material, e por aí vai.
O nosso contexto demonstra a mesma coisa que aconteceu em Gênesis 11 quando os homens se juntaram e tentaram a todo custo tornar o próprio nome conhecido e famoso no mundo inteiro. A consequência foi uma enorme confusão provocada por Deus. Vivemos uma enorme confusão de ideias e pensamentos, cada um definindo o seu próprio modo de viver.
Isso tem afetado profundamente a igreja. Não estamos imunes a isso. Estamos agindo de acordo com o nosso contexto. Nós conseguimos separar vida espiritual, limitando-a aos nossos momentos devocionais aos domingos, da nossa vida secular.
A confusão citada em Gênesis 11 permaneceu naquela terra com o passar dos anos. Sinar se tornou a Babilônia dos dias de Daniel. Quem conhece a história sabe que Judá foi levado cativo para a Babilônia. Sinar – Babilônia; o lugar da torre de babel (Gn 11:2); era sinônimo de oposição a Deus; de inimizade com Deus, era o lugar em que a perversidade tinha a sua morada (Zc 5:5-11); a retidão poderia esperar oposição; lugar caracterizado pela altivez, idolatria, feitiçaria.
Foi nesse contexto que Daniel foi inserido. A possibilidade de se tornar parte daquele contexto era enorme. Assim como nós. Facilmente somos induzidos a conduzir a nossa vida de acordo com o contexto que nos cerca. Por sermos mais guiados pelo contexto do que pela Palavra de Deus, muitas vezes, encontramos a “bênção” de Deus naquilo que a Bíblia chama de maldição; sentimos paz naquilo que deveria causar inquietação.
Daniel chegou na Babilônia aguardando uma sequência de sofrimentos, mas o que poderia ser ruim pareceu uma grande bênção de Deus na sua vida. Foi escolhido entre os demais, com mais três amigos, para ser alimentado no palácio, aprender tudo sobre a terra e servir ao rei posteriormente.
Para Daniel e seus amigos, receber aqueles benefícios seria a destruição da caminhada com Deus. Deus abençoou profundamente a vida de Daniel e tudo por causa de algumas decisões cheias de discernimento espiritual.
Acredito que essa é uma das maiores carências da igreja. Confesso que fico assustado muitas vezes com o que ouço de pessoas que já estão há um bom tempo no contexto de igreja. Discernimento não tem sido um dom desejado pela igreja. E quando falo de discernimento, falo da necessidade de discernirmos qual o espírito que está por trás daquilo que estamos vivendo ou fazendo. Não podemos, nunca, ignorar os desígnios de satanás.
Daniel sabia onde estava, sabia porque estava ali, sabia das consequências de cada gesto, de cada atitude. Ele me ensina a viver hoje num contexto semelhante ao que ele foi inserido. Vivemos em Sinar, num ambiente de profunda oposição a Deus e sua Palavra, ambiente confuso, com várias verdades e cada um optando por estilo de vida. Somos bombardeados por uma mídia destruidora da família, alimentadora da promiscuidade. Uma mídia que ridiculariza o cristão e aplaude o iníquo. Ser correto nos nossos dias é vergonhoso. Ser cristão é alienação. Ser pastor é ser ladrão. Daniel surpreende e resolve ser servo no meio de uma terra distante de Deus.
Algumas lições preciosas que retiramos do texto:
Você pode luz ainda que inserido em um contexto de trevas – v.2
Jesus disse em Mt 5: 14-16 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.
Muitas vezes é inevitável o fato de estarmos num ambiente de oposição a Deus. Ruas, cidade, escola, país, trabalho, universidade, etc. Mas podemos ser luz. Daniel nos mostra isso. Mesmo estando em Sinar ele não deixou de ser servo de Deus.
Discernimento nos ajuda a não enxergar bênção na maldição – v.5
“Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas iguarias da mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, ao cabo dos quais assistiriam diante do rei”.
Aparentemente, uma grande bênção, porque além de serem bem tratados, teriam o privilégio de aprender sobre a cultura do país e, mais adiante, servir ao rei daquela terra. Agora eles precisavam discernir e decidir como se ajustariam para viver em um ambiente que fazia oposição às suas convicções religiosas. Todo envolvimento transcultural precisa ser bem analisado e estudado quanto as implicações das decisões tomadas.
Daniel aceita a reeducação e o novo nome, mas não aceita comer a mesma comida do rei. O ponto principal – Toda comida na Babilônia ou na Assíria era ritualmente impura – Ez 4:13; Os 9:3,4
Ef 5:5-10 Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles. Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), provando sempre o que é agradável ao Senhor.
A percepção de Daniel ia além do que estava na sua frente. Ele não era um vegetariano, mas discernia bem de perto as consequências espirituais diante de um simples ritual – alimentar-se da iguarias do rei.
Temos andado muito distraídos. Talvez para muitos isso seria uma honra, um privilégio... Nem sempre o que parece bênção é de fato uma bênção. Precisamos cortar tudo o que fazemos ou recebemos com a Palavra de Deus. Está na Bíblia? Deus aprova? Jesus no meu lugar faria o mesmo?
Muitas vezes aquilo que é aparentemente simples, pode ser destruidor as nossas vidas – v.8
“Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se”.
Pelos padrões orientais, compartilhar de uma refeição era se comprometer a uma amizade. Comendo das iguarias, aceitavam uma obrigação de lealdade ao rei. Alimentar-se junto com outro tinha uma significação pactual – Gn 31:54; Ex 24:11; Ne 8:9-12; Mt 26:26-28
Daniel preferiu rejeitar esse símbolo de dependência do rei para estar livre na sua relação com Deus.
A falta de discernimento tem feito que declaremos frases que se tornaram muito comuns entre nós: “Mas o que isso tem demais?” “Pra que esse radicalismo todo?” “É tão comum, todo mundo faz”
As iguarias do príncipe deste mundo tem atraído a muitos de nós. Faço esta oração: Deus, levanta adolescentes, jovens, adultos, idosos, que rejeitem, que resolvam firmemente não contaminar-se com as iguarias do príncipe deste mundo!
Deus estabeleceu sua Palavra para discernirmos entre o puro e o impuro.
A disposição de uma vida santa agrada a Deus e inspira pessoas– v.9
Ora, Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe dos eunucos.
De Deus ele encontrou misericórdia. E esse mesmo Deus mexeu no coração do chefe dos eunucos para compreender a atitude.
Pv 16:7 Sendo o caminho dos homens agradável ao SENHOR, este reconcilia com eles os seus inimigos.
A prática de uma vida disciplinada provoca consequências positivas na nossa vida como um todo – v.12,13
Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se nos dêem legumes a comer e água a beber. Então, se veja diante de ti a nossa aparência e a dos jovens que comem das finas iguarias do rei; e, segundo vires, age com os teus servos.
O resultado de 10 dias justificou a confiança de Daniel de que a mudança não traria nenhum prejuízo ou problema para ninguém.
1o As suas feições eram diferentes – v.15 No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; estavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei.
2o As suas mentes eram diferentes – v.17 Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligência de todas as visões e sonhos.
3o As suas vidas eram incomparáveis – v.19 Então, o rei falou com eles; e, entre todos, não foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso, passaram a assistir diante do rei.
4o As suas capacidades superabundavam a dos demais – v.20 Em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino.
Você pode continuar sendo uma bênção e influenciando vidas – Daniel continuou
... Precisamos ser diferentes, precisamos continuar diferentes.
v. 21 Daniel continuou até ao primeiro ano do rei Ciro.
Que Deus ministre ao seu coração da mesma forma que ministrou ao meu.
Boa semana
Ricardo Carvalho
Caro, Tenho uma dúvida. Desculpe a minha ignorância, mas neste texto, eu posso encontrar que caso eu vá a casa de um macumbeiro, faço um culto, logo após ele me oferece um café, se eu beber, estou me contaminando?
ResponderExcluirCaro Jairo. Obrigado por perguntar. Acredito que Daniel tinha convicções profundas sobre o tema, bem como o contexto onde estava inserido. Paulo escrevendo aos Corintios na primeira carta, capítulos 8 a 10, e em Romanos 14, ensina claramente como devemos proceder em situações citadas na sua pergunta. Acredito que a leitura desses textos ajudará você a tomar a melhor decisão. Grande abraço
ExcluirCaro Ricardo,
ResponderExcluirMuito obrigado pela resposta. Os textos indicados realmente esclareceram a minha dúvida.
Deus abençoe grandemente a sua vida!
Um abraço. Jairo
Que bom. Sempre a disposição.
ExcluirAbraços