segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eu sempre tive uma vida muito boa...

Eu sempre tive uma vida muito boa. Tive um pai muito presente na minha história. O nosso relacionamento sempre foi muito bom. Apesar de toda dedicação ao trabalho, meu pai sempre foi muito amoroso e proporcionou momentos especiais de comunhão. Não houve uma ocasião sequer que me sentisse desamparado por ele.

Um dia, não sei por que, comecei a perder a graça pela vida boa que levava. Decidi viver por conta própria. A verdade é que eu não sentia mais prazer em conviver com o meu pai e com o meu irmão. Aquela comunhão, aquele pai amoroso, as suas história, nada mais chamava a minha atenção. Comecei a desejar muito uma vida fora de casa.

Foi quando criei coragem e disse ao meu pai que não queria mais ficar naquela vidinha de sempre. Queria ser dono do meu nariz. Por mais que ele me mostrasse o quanto era bom viver em família, eu não conseguia mais ouvi-lo. Hoje sei a tristeza que causei a ele.

Resolvi sair de casa. Peguei aquilo que “tinha direito” e fui para bem longe. Agora eu podia curtir a vida do meu jeito. Entrei de cabeça na “vida” e que “vida”. Nunca tive tantas mulheres, tantos amigos, tanta alegria.

De vez em quando até lembrava as história que meu pai me contava. Ele sempre me falava do quanto era seguro estar na sua presença. Ele me falava de santidade e dos benefícios de caminhar em santidade, mas o que me atraía era a vida que eu estava levando. Sabe quando você tem certeza que o prazer jamais vai acabar, que choro é coisa do passado, que a “mesmice” desapareceu da sua vida? Era assim que eu enxergava aquele meu momento. Curti, ah como curti. Fiz tudo o que imaginei. Relances das palavras do meu pai de vez em quando vinham a minha mente, mas eu não dava a menor atenção aquelas lembranças.

Um dia, perdi tudo. Perdi as mulheres, perdi os “amigos”, perdi a alegria, perdi todo “prazer”. Tentei sobreviver naquele ambiente vazio, mas não tinha como continuar vivo ali. Cheguei ao fundo do poço. Estava afundado na lama e não sabia mais como sair. Foi exatamente nesse momento que lembrei muito do meu pai. Que saudade! Por que perdi o prazer na vida que eu levava. Eu era tão feliz e não enxergava isso. Eu estava morrendo e sabia que não teria muito tempo de vida.

Olhei no espelho e fiquei espantado com a imagem que vi. Eu estava acabado. O pecado destruiu tudo de bom que conseguia enxergar em mim. Preciso voltar, pensei! Mas será que me pai vai me receber?

Voltei! Quando estava chegando perto de casa, percebi que tinha um senhor na porta olhando na minha direção. Os seus cabelos estavam mais brancos agora, mas eu sabia que era o meu pai. Eu até pensei em desistir, mas ele fixou os olhos onde eu estava e começou a vir ao meu encontro. Quando me dei conta, aquele velho estava correndo na minha direção. Fiquei sem ação. Nenhum homem da sua idade faria aquilo a não ser que algo muito sério estivesse acontecendo.

Quando ele chegou perto eu já estava em prantos. Ele me agarrou, me abraçou forte! Eu tentei falar e pedir perdão, mas ele só me dizia: “não diga nada, meu filho, meu filho amado, que saudade filho, você é o meu amado”. Ele me abraçava, me beijava, repetia que eu era o seu filho amado e eu só conseguia chorar.

De verdade, eu queria ser punido de alguma forma, mas meu pai continuava a repetir que eu era o seu filho amado. A festa que ele fez foi incrível. A alegria quando olhava para mim enchia o meu coração de paz e satisfação.

Hoje estou em casa novamente. Redescobri a alegria de estar em casa, o prazer de estar com o meu pai, de ouvir as suas histórias. Como é bom conversar com ele. Como é bom saber que ele nunca desistiu de mim. Como é bom conviver intimamente com o meu pai.

Pai, muito obrigado por me amar apesar de tudo que fiz.

Eu tenho certeza que sou o amado do meu pai.

Que bom!

Assinado, o filho pródigo


Por Ricardo Carvalho, recontando a história bíblica por outro ângulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário