segunda-feira, 18 de abril de 2011

Em busca de uma espiritualidade sadia


Algo que me chama a atenção é encontrar alguém que cultiva uma espiritualidade sadia. Espiritualidade que falo aqui tem o sentido de devoção, intimidade com Deus. Essa aproximação de Deus é uma necessidade na nossa vida. Nele nós somos completos.

Jesus gostava muito de ensinar através de parábolas e uma delas trata dessa aproximação de Deus, da busca pela espiritualidade. Em Lucas 18, a partir do versículo 9, Jesus conta a parábola de um fariseu e de um cobrador de impostos.

O Publicano (cobrador de impostos) era alguém que tinha uma franquia da coleta de impostos de uma determinada área cujos impostos ele ficava encarregado de arrecadar. Havia um contrato entre o juiz e o publicano, com vigência de anos, no qual vinha especificada a cota que o coletor teria de entregar anualmente ao governo romano. Geralmente, o detentor da franquia cobrava ao povo valores bem superiores aos estipulados na quota. Eles eram judeus que esmagavam os próprios irmãos com roubos dos mais terríveis.

Os Fariseus formavam um grupo de cerca de 6000 homens que tinha muito poder na sociedade, principalmente pelo estilo de vida séria que levavam. Aguardavam com entusiasmo a vinda do Messias, mas infelizmente estavam tão firmes em suas idéias preconcebidas a respeito dele que, quando ele veio, não o reconheceram. Estavam sempre querendo aprimorar as leis de Deus. Achavam que obedecer a Deus consistia principalmente em observar todos os detalhes dela, e não em amar.

Os dois saíram de casa em busca de uma aproximação de Deus. Foram ao templo orar. Chegando lá, o fariseu ficou em pé orando de si para si mesmo destacando todas as suas qualidades esprituais e práticas religiosas, desprezando os demais "pecadores". O cobrador de impostos ficou distante de todos sem coragem sequer de erguer os olhos ao céu e só conseguiu dizer uma frase: "Tenha pena de mim Senhor, o pecador". Jesus conclui a parábola dizendo que o publicano desceu de lá justificado, perdoado por Deus e aceito em sua presença. Porque quem se exalta diante de Deus é humilhado e quem se humilha diante de Deus é exaltado.

Apesar de serem tão diferentes em idéias e comportamentos diários, existem algumas semelhanças entre esses dois homens: Eram homens que sabiam onde, como e quando deveriam buscar ao Senhor – v.10a - Estavam no templo, no local de oração. Ali as orações tanto eram feita em público, como em particular. O propósito daqueles homens era um só – estar com Deus, conversar com ele; Eram homens que entendiam da necessidade de se ter vida de oração – “com o propósito de orar”; Eram homens com convicções teológicas fortíssimas - Sabiam que Deus ouvia as orações e que somente a ele poderiam orar; Eles Faziam parte da mesma comunidade - Apesar de um ser de um grupo religioso diferente do outro, os dois eram judeus. Estavam firmados na mesma aliança e faziam parte da mesma comunidade; Eram homens que iam além das exigências da lei - O fariseu, como ele mesmo dizia, fazia mais do que aquilo que era exigido na sua lei pois jejuava uma vez a mais e dava o dízimo até daquilo que não era dizimável. O publicano, como todos, sempre cobrava mais do que era devido ao povo; Eram homens sinceros acerca de si mesmos - Tudo que o Fariseu e o Publicano diziam a respeito de si mesmos era verdadeiro. Eles não estavam mentindo.

Mas quando se trata de uma busca pela espiritualidade, as diferenças entre os dois são evidenciadas e Jesus mostra essas diferenças:

1. Um enxergava muitas qualidades em si mesmo enquanto o outro sequer conseguia se olhar. O Fariseu ressaltava o quanto investia na sua vida devocional e na sua vida religiosa. O Publicano, por sua vez, não conseguia nem fazer o óbvio, olhar para cima, encarar Deus de frente.

2. Um estava claramente sob grande convicção de santidade, enquanto o outro de pecado. Um abria o peito expondo as suas vantagens religiosas, enquanto o outro batia no peito expondo a sua verdadeira identidade. Perceba que o publicano se põe distante, não se sentindo digno sequer de orar perto de alguém (v.13).

3. Um era algo por fora, mas diferente por dentro, enquanto o outro era por fora o que era por dentro. Nas atitudes exteriores o Fariseu era exemplar, talvez entre os mais piedosos de Israel, mas o seu coração e atitudes demonstram aspectos diferentes dentro de si. O Publicano por sua vez só conseguia dizer “eu sou o pecador”.

4. Um voltou pra casa diferente, justificado por Deus, enquanto outro voltou pra casa pior do que quando chegou – v. 14 - O Publicano voltou para casa justificado, contado como justo, inocentado dos seus pecados.

Pensando na nossa busca pela espiritualidade, ou seja, aproximação e intimidade com Deus, algumas aplicações podem ser retiradas do texto:

1. Fica claro que não existe santidade dissociada dos relacionamentos interpessoais. Se você tem se "aproximado" de Deus e se afastado das pessoas por se achar mais espiritual que elas você não entendeu ainda o que é espiritualidade.

2. Nem sempre a forma como avaliamos a nossa espiritualidade define quem exatamente somos diante de Deus. Se você quer saber quem é você diante de Deus veja como você define aqueles que ainda não tiveram um encontro pessoal com Jesus e estão afundados em pecado. Tanto eles como você necessitam da graça de Deus. Todos nós somos pecadores. A única diferença é que já fomos perdoados por Deus. O nosso maior desejo deve ser que todos sejam por Deus perdoados.

3. Conhecimento bíblico e práticas religiosas não encontram aceitação da parte de Deus se o coração não está transformado.

4. Intimidade com Deus sempre revela a santidade do Senhor e o pecado humano (somos indignos de estar na presença de Deus, mas a Sua graça nos concede esse privilégio). Quanto mais nos aproximamos de Deus, mas percebemos que precisamos da sua ajuda para moldar as nossas vidas.

5. O padrão do Reino é diferente do padrão do mundo. No mundo, quem se humilha é tolo e quem se exalta é o bom. No Reino quem se humilha é por Deus exaltado, quem se exalta não pode ficar em Sua presença.

O texto continua relatando um acontecimento. Alguns pais trouxeram crianças para serem abençoadas por Jesus e os discípulos tentaram impedir. Jesus pediu que as crianças se aproximassem e trouxe uma lição que fecha o tema proposto na parábola. Se queremos nos aproximar de Deus e vivenciar uma espiritualidade saudável precisamos ser como uma criança. Quer conquistar o coração de Deus, seja como uma criança (v.15-17). Crianças confiam, entregam-se por completo, são dependentes, são sinceras, são o que são.

Toda espiritualidade que arranca de nós a humanidade deve ser questionada. Espiritualidade sadia nos torna mais humanos. E quanto mais humanos somos, mais estamos no caminho da intimidade com Deus.

Uma semana de paz pra você

Ricardo

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