Quem conhece a história de Isaque, Rebeca e seus filhos sabe exatamente o que vou compartilhar aqui. Quando já era velho e cego, Isaque chamou Esaú para abençoá-lo. Antes pediu que ele fizesse uma comida de uma caça do jeito que ele gostava. Rebeca ouvindo aquilo, monta um esquema e coloca Jacó no lugar de Esaú. Jacó recebe a benção no lugar de Esaú, que quando retorna com o que o pai pediu, não encontra mais nada, nem uma benção sequer.
A Bíblia tem uma característica muito interessante. Ela não maquia as pessoas. Ela mostra a realidade de cada uma, visitada de forma maravilhosa pela graça de Deus. A Bíblia não é Facebook que só mostra o lado bom da história. A Bíblia é a Palavra de Deus que desnuda por completo o ser humano, desvendando os mais profundos sentimentos presentes em seu coração.
As famílias também são apresentadas de forma nua e crua nas Escrituras. Algo que me fascina, é perceber que Deus escolhe famílias desarrumadas, age no meio dessas famílias e torna essas famílias abençoadoras de todos os povos da terra.
É difícil encontrar na Bíblia, família tão complicada como a de Isaque – Gn 27:1- 28:9
Alguns detalhes daquela família:
(v.1-5) – O pai gostava mais de Esaú, porque era o mais velho e tinha hábitos que o agradavam. Esaú era caçador. A mãe gostava mais de Jacó, porque seu parto fora difícil e tinha hábitos que a agradavam. Gostava de ajudar na cozinha (Gn 25:24-28). Isso gerou ciúme entre os irmãos. O ciúme passou para gerações seguintes. José, filho de Jacó, por exemplo, foi maltratado porque era o queridinho dos pais (Gn 37:4)
(v.4) – Isaque estava idoso, já não enxergava direito e não podia mais trabalhar. Ele estava prestes a morrer, mas ainda era rico. Esaú estava de olho na herança. Jacó também. Sua mãe era sua aliada nesta causa. O fato é que Isaque fez uma troca com Esaú. Pediu bela porção de carne para poder abençoá-lo. As relações eram de troca. Não eram consequência de amor verdadeiro, pelo menos nesta situação. Esaú “bajulava” o pai, na esperança de ficar com a melhor parte. Jacó se apoiava na mãe.
(v.5-27) – Rebeca estava do lado de Jacó e como viu que a causa estava perdida, armou um esquema baseado na mentira. Jacó fez o mesmo antes e depois dessa ocasião.
(v.20) – Quando se viu apertado, Jacó usou o nome de Deus para justificar sua “habilidade” em encontrar alimento para o seu pai. Qual a dificuldade em fazer isso, se a sua mãe lhe ensinou a mentir direitinho?
(v.30-41) - Como resultado de todo o processo, baseado no esquecimento dos acordos, na mentira, na troca e no uso do nome de Deus, aumentou o ódio de Esaú por seu irmão depoisde ter sido enganado.
As nossas decisões familiares hoje são fruto dos ensinos que recebemos no passado. Certa vez li algo que guardo até hoje: “Precisamos perceber a importantíssima influência de nossas famílias de origem sobre os indivíduos que somos atualmente – as personalidades de nossos pais e mães, o modo como se relacionavam e a maneira como nossas famílias viviam. É simplesmente impossível passar duas décadas ou mais em contato íntimo com um grupo de pessoas sem que elas influenciem nossas personalidades. Em grande parte, somos quem somos hoje por causa das experiências que vivemos – ou sofremos – dentro do ambiente de nossas singulares células familiares. A dinâmica da família determina nossa autoestima e autoconfiança. Os valores familiares moldam o nosso caráter. As experiências vividas na família influenciam as noções de como o casamento deve se estruturar e como as crianças devem ser criadas, como devemos encarar o trabalho, o lazer, a educação, o dinheiro, a política e a religião. Todos olhamos para nossas famílias e resolvemos repetir o modelo, quando nossa experiência foi basicamente positiva, ou então criar uma situação oposta, quando nossa experiência foi essencialmente negativa. De qualquer modo, somos profundamente afetados pelo comportamento e pelas atitudes de nossas família”.
Guarde bem isso. Família é projeto de Deus, mas não nasce pronta. Tem que ser construída e isso exige esforço e determinação. Talvez você não esteja refletindo sobre o seu comportamento e o que isso poderá ocasionar aos seus filhos e netos, mas fique certo você sempre será uma influência para o bem ou para o mal. Tudo depende das suas atitudes.
Quero apenas trazer alguns pontos para pensarmos um pouco, tomando como base a família de Isaque e Rebeca:
1. As preferências numa família podem ser mais destruidoras que imaginamos.
Por preferir Esaú, Isaque rejeitou a palavra de Deus sobre a bênção para Jacó. Por preferir Jacó, Rebeca não respeitou o seu marido, enganando-o com comida e vestindo o seu filho para se tornar parecido com o irmão.
Sem querer ou querendo temos preferências em nossas casas. Entender a individualidade de cada um e aprender a amar e cuidar de cada pessoa de forma individual é um grande desafio nas famílias. Não são poucos os filhos que se sentem preteridos em casa. O sentimento de rejeição tem destruído mais do que imaginamos.
O sentimento de rejeição pode deixar profundas marcas na autoestima. Essas marcas podem ser bastante profundas e influenciar o comportamento pelo resto da vida, caso a pessoa não perceba e nem trate o sentimento. Preferências podem gerar sentimento de rejeição. No caso de Esaú e Jacó cada um sabia por quem era querido e por quem era rejeitado. A rejeição pode ocorrer de várias maneiras: abandono ou pouca dedicação de tempo, adoção, sensação de ser preterido e perceber ou achar que o irmão é mais querido, ser criticado demais, não ser elogiado e, quando comparado com outros, ser sempre de forma negativa.
O que isso pode trazer na vida dos filhos? Uma das reações é o surgimento de um sentimento de menos valia. A pessoa começa a achar que existe algo de errado com ela. Acha que a rejeição ocorreu por que há um "defeito" nela. Por isso foi descartada, desprezada, abandonada, rejeitada. Isso pode gerar outros sentimentos, como a culpa por exemplo. Por não corresponder as expectativas dos pais surge uma enorme necessidade de ter a aprovação dos pais. Há um constante esforço em tentar agradar a todo custo, mas sem nunca “conseguir” alcançar o objetivo desejado. Não é por acaso que vemos tantas pessoas dominadas pela raiva e pela mágoa.
Se estudarmos de forma detalhada a vida de Esaú e Jacó veremos profundas marcas nas suas personalidades. Nada daquilo surgiu por acaso! As preferencias podem ser mais avassaladoras que imaginamos.
2. A forma como você estabelece a cumplicidade na sua casa define o comportamento e o futuro dos seus filhos.
Vamos pincelar um pouco a postura de Isaque. A relação dele com Rebeca não era tão saudável. Fica claro que a cumplicidade entre eles envolvia mais os interesses de Isaque. Ele agiu da mesma forma que um dia agiu o seu pai Abraão. Estando em terra estranha, mentiu para todos dizendo que Rebeca era sua irmã e não sua mulher, como forma de preservar a vida. Cumplicidade na mentira era algo comum entre eles. Ele mentia e ela confirmava a mentira como se fosse verdade. Não foi difícil para Rebeca enganar o seu marido quando este já era velho e cego, preparando uma comida do jeito que ele gostava e colocando Jacó no lugar de Esaú. Na cumplicidade estabelecida entre eles, a mentira podia ser utilizada quando os interesses pessoais precisassem ser alcançados. Durante boa parte da sua vida Jacó viveu enganando as pessoas. A vida dele foi marcada pelo engano. Esaú se afastou completamente de Deus e dos seus caminhos.
Li algo muito interessante sobre cumplicidade: “Cumplicidade pode ter o significado de conivência ou de amizade. Quando é utilizado o sentido de conivência, há normalmente conotação negativa e se refere à qualidade de ser cúmplice de algum ato ilegal. Quando é utilizado como uma atitude positiva e desejável em uma relação, seja entre casais, amigos, familiares, etc., envolve parceria, confiança e apoio nas mais diversas decisões a serem tomadas. A cumplicidade no amor e em um relacionamento é uma característica importantíssima”.
A forma como você estabelece a cumplicidade na sua casa define o que você quer para a sua família mais adiante.
3. A sua maneira de construir relacionamentos ensina a sua família como estes devem ser edificados.
A forma como Isaque encarou o casamento repercutiu na escolha dos seus filhos e na maneira como eles administraram esse tema. Deixar a esposa vulnerável para preservar sua vida foi o que ele fez. Rebeca não foi leal a Isaque quando agiu de forma sorrateira. Isaque não agiu como o pai aceitando da esposa uma outra mulher para lhe dar o filho. Mas Jacó fez isso intensamente. Os casamentos de Esaú foram desastrosos. Uma fonte de desgosto e tristeza para os pais. O casamento ou casamentos de Jacó foram desgastantes, movidos por mentiras, trocas de favores, compras por noites de sexo, etc.
Não temos cuidado muito dessas questões hoje em dia. Não temos buscado na Bíblia padrões de relacionamentos que nos ensinem a viver família dentro do conceito que Deus estabelece na sua palavra. Hoje, tem se tornado verdade absoluta o que a sociedade define como relacionamento e não temos caminhado mais com o que a Bíblia define sobre relacionamentos. “O casamento não é apenas uma opção de estilo de vida. Ele é um empenho contínuo e honesto de caráter espiritual e um esquema de relações que emana da criativa magnificência de Deus”. Em toda Bíblia o casamento é usado como a mais sublime metáfora para o relacionamento entre o homem e Deus. Um bom casamento cristão é, na verdade, mais do que uma metáfora religiosa: ele é o primeiro, o mais glorioso, tangível e visível fruto do Reino de Deus. O casamento não foi simplesmente o primeiro evento no qual Jesus realizou um milagre. Depois da própria criação, foi o primeiro milagre do próprio Deus: “O Senhor Deus fez uma mulher e a levou até ele”. Gn 2:22.
De que forma você tem tratado desse tema na sua casa? De que forma você tem vivido isso na sua vida? Sofremos uma avalanche de discussões sobre casamentos “homoafetivos”, nos prendemos nessas discussões, e começamos a agir e viver de qualquer forma como se a graça de Deus, que me salvou e me resgatou, me desse o direito de infringir a sua Palavra.
Eu poderia avançar um pouco mais na ideia dos relacionamentos. A relação entre eles nem sempre era construída tendo como base a fidelidade. Parece que naquela familia os interesses pessoais estavam sempre acima de tudo. Como você vê casamento? Como são edificadas as suas amizades? Qual o modelo que você tem trazido para a sua casa? O que você faz hoje determina o que será feito amanhã pelas gerações futuras.
4. O jeito como você trata a Palavra e o Nome de Deus estabelecem o tipo de reverência e temor da sua casa
Você mostra como trata a Deus e a sua Palavra pela obediência. Jesus ensinou em João 14:21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.
Não adianta se dizer cristão, proclamar a todos que a graça alcançou você se as suas atitudes e comportamento são completamente diferentes daquilo que Deus ordena em sua Palavra. Queremos que a nossa família tema a Deus, mas andamos sem o menor temor ou pudor.
Andar com Jesus não é fácil. Ele disse em Mateus 7.13,14 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Não é só o final que é complicado (estreito). O caminho que conduz para a vida não é espaçoso.
Não é o fato de ter a Bíblia em casa e ler de forma regular que define que estou honrando a Deus. É na obediência e no cumprimento daquilo que leio que demonstro como vejo Deus e sua Palavra.
Isaque rejeitou a orientação de Deus quando disse que a bênção deveria ser dada a Jacó. Esaú menosprezou o direito da primogenitura trocando-o por um prato de lentilhas com o seu irmão. Ele teve ódio de Jacó, mas ele mesmo rejeitou a benção de Deus sobre a sua vida. Jacó não teve também o menor constrangimento em dizer que Deus tinha mandado a caça pra ele de uma forma miraculosa.
Brincar de Deus e com sua Palavra pode se tornar mais comum que imaginamos. Veja como você lida com Deus e com sua Palavra.
5. Como você lida com a verdade define que tipo de caráter você quer na sua família.
Rebeca mentia, Jacó mentia. O próprio nome dele significava enganador, suplantador. A gente não mede a força destruidora de uma mentira. Acho que alguns textos explicam tudo:
Efésios 6:14 Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
João 8.44 Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.
Apocalipse 22.15 Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.
Como você tem lodado com a verdade? qual o carater que esta sendo formado na sua casa?
6. Deus usou uma família complicada para abençoar povos e nações. Deus pode usar também a sua família.
As vezes olhamos a realidade da nossa família e isso nos assusta. Estamos bem longe do ideal de Deus. A família de Isaque não foi um grande modelo de família. Isso é o que me atrai nas Escrituras. Ela apresenta famílias normais, problemáticas, cheias de falhas. Mostra também o Deus todo-poderoso agindo e transformando essas famílias.
Foi a partir daquela família que todos os povos da terra foram abençoados. Deus tinha o objetivo de levantar um povo para que esse povo transmitisse a todos os povos da terra que existe um Deus soberano. Foi a partir dessa família que nasceu a nação de Israel. E através da nação de Israel, Deus enviou o nosso Salvador, Jesus Cristo o nosso Senhor.
Se não fosse o amor e a graça de Deus alcançando aquela família, não haveria em nós esperança eterna.
Tenho plena convicção de que o Deus do passado é o mesmo hoje e pode transformar a nossa família de tal forma que nos tornaremos bênçãos para os povos da terra.
Foi a partir de Jacó que a grande mudança aconteceu. Um dia ele lutou com Deus. Naquele encontro ele saiu mancando e com um novo nome. Chegou como Jacó, saiu como Israel. A partir daquele momento era um novo nome, uma nova forma de andar.
Que Deus nos conceda a oportunidade de ter um encontro transformador com ele e que a nossa casa possa ser o lugar onde Deus tem prazer de manifestar a sua glória.
Um ótima semana pra você
Ricardo Carvalho
Excelente e miito bem expositiva e história de Isaque e Rebeca. Que o Senhor continue te abençoando muitíssimo Fica na paz Regina Vidal
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