segunda-feira, 22 de abril de 2013

UMA HISTÓRIA QUE MUDOU A MINHA VIDA! Por Ricardo Carvalho

Preciso contar uma história pra vocês!

Existem experiências na nossa vida que se tornam inesquecíveis. Uma delas mudou por completo a minha história. Há anos atrás fui enviado para trabalhar em outro país por ordem do governo. Era um povo de língua estranha e uma religião diferente da minha. Sob o meu comando estavam vários outros soldados e o nosso principal objetivo era manter a ordem na cidade. Nos dias de feiras e festas as coisas se complicavam bastante.

No começo tudo foi muito tranquilo e a força do nosso comando estabelecia a ordem com facilidade. Naquele país, os crimes eram punidos com a morte e não se esperava muito para executar a sentença. Por mais que eu não concordasse com aquilo, tinha que obedecer, pois eram ordens inquestionáveis.

Todos os anos havia uma festa muito importante para aquele povo. Eram dias de trabalhos intensos para mim e para os homens que estavam sob o meu comando. Em uma dessas festas, estávamos descansando e nos preparando para um novo turno, quando fomos chamados às pressas pelo governador. Um tumulto havia se formado na cidade. Os líderes religiosos daquele povo eram bem radicais em sua convicções. Quando chegamos na praça central, onde estava o palácio do governador, parecia que uma guerra estava iniciando. A cidade inteira havia se deslocado para aquele lugar e os religiosos estavam diante do governador acusando um homem de tentar persuadir o povo a se rebelar contra o governo e contra os seus costumes e práticas religiosas. Logo fomos colocados diante do governador para manter a ordem.



Eu não conhecia aquele homem, mas como era apresentado como um homem perigoso, eu e os meus homens fomos colocados como responsáveis para guardar aquele acusado. Esse dia foi marcante para a minha vida. Eu nunca tinha visto o povo tão irado, nem tampouco o governador meio perdido, sem saber qual decisão tomar diante do ocorrido. Por mais que procurasse uma justificativa para o levante da população, nada era encontrado para consolidar tais acusações. Em algumas ocasiões olhei para aquele homem e ele ficava calado o tempo inteiro. O seu rosto, muito machucado pelos socos e tapas, transmitia uma certa paz para quem olhava. Estranho, muito estranho.

Algumas coisas precisavam ser feitas. Eram as leis daquele governo. Antes mesmo do julgamento final, o acusado era punido com açoites. Eu precisei fazer isso. Ele não reagiu! Gritava de dor, mas nada mais saía dos seus lábios! Por mais que a gente tente ser gente em todos os momentos, as coisas acontecem tão rápido e são tantas ordens, que agimos de forma automática em muitas situações assim.



Eu confesso que dificilmente parava para olhar para um condenado, mas nesse dia fui levado a olhar para esse de forma diferente. Eu não conseguia entender o que me fazia olhar para ele! Eu não sei o que era, mas sei que havia algo diferente nele. Eu nunca vi uma pessoa receber tantas acusações, ser violentamente agredido e ficar calado. Ele fez isso!

Estava bem perto do governador quando ele recebeu um recado da sua esposa dizendo que tinha sonhado com aquele homem e que ele não deveria tomar nenhuma posição. O governador estava inquieto e sendo muito pressionado pelos religiosos daquele lugar. Várias tentativas de libertar aquele homem foram feitas, mas a pressão do povo e religiosos levou o governador a fazer uma pergunta a todo o povo: O que devo fazer com esse homem. A resposta foi unanime: ele deve ser morto. Não havia mais o que fazer. Fui chamado para conduzi-lo até o local onde seria morto.

Naquele país, a morte era lenta e dolorosa e os materiais necessários para aplicar a pena de morte tinham que ser carregados pelo condenado numa espécie cortejo até o local. Eu fui o responsável pela condução, guarda e execução da pena. A distância entre o palácio e o local da execução não era tão grande, mas confesso a vocês que naquele dia parecia que estávamos há horas caminhando quilômetros de distância. Ele caminhava calado, carregando todo o peso dos objetos que seriam utilizados para a sua morte. Num determinado momento, faltou-lhe forças e ele caiu. Dei ordem para que ele se levantasse. Meu coração estava partido naquele momento, mas eu tinha que fazer isso. Ele não conseguia levantar. Foi quando olhei no meio da multidão e chamei um homem para ajuda-lo. Aquele homem não queria, mas eu o obriguei a fazer aquilo. Continuamos o cortejo e, em alguns momentos, quando olhava para ele, via a tristeza no seu rosto, mas a paz continuava sendo transmitida de alguma forma. Chegamos até o local da execução! Os soldados que trabalhavam comigo me perguntaram se poderiam proceder a montagem dos aparelhos e executar o condenado. Eu autorizei eles a irem em frente.

Lembra que eu disse que a morte era lenta e dolorosa? Essa era a pior parte pra mim. Eu tinha que ficar lá até o final. Aquelas horas pareciam uma eternidade pra mim! Haviam outros condenados ali, mas a minha responsabilidade era conduzir e executar aquele que era o mais perigoso para os religiosos da época. Normalmente os acusadores e outras poucas pessoas participavam desses momentos de execução, mas nesse dia muita gente estava presente. Eu tinha que manter as pessoas afastadas para que a execução acontecesse, mas não podia obrigar a multidão que ficasse calada. Naquele dia os religiosos estavam em peso lá. Nunca tinha visto isso antes. Eles eram o que mais gritavam e zombavam daquele que estava sendo executado.

Ele ouvia tudo em silêncio e olhava para cada pessoa que ali estava. Não sei como conseguia olhar para as pessoas. Eu estava resolvendo alguma pendência quando, de repente, ouço a voz daquele homem. Ele fez um pedido a Deus! Aquilo foi assustador pra mim. Como pode alguém que está sendo executado pedir a Deus que perdoe aqueles que estavam ali porque eles não sabiam o que estavam fazendo? A mãe dele estava lá. Eu vi a dor no rosto daquela mulher. Ele falou com ela e pediu a um grande amigo seu que cuidasse dela. Aquela mulher chorou muito ao ouvir o seu filho. Ele falou ainda algumas vezes, mas depois silenciou durante algumas horas.

De repente, quando todos estavam meio que distraídos, ele voltou a falar. A sua última fala aconteceu logo após um grande grito. Ele olhou para o céu e disse a Deus que tinha feito o que tinha sido colocado em suas mãos.

Ele disse: Deus, está tudo pronto!

Eu não entendi aquela frase. Como está tudo pronto, se ele está morrendo? Aí ele soltou a última frase: Nas tuas mãos entrego o meu espírito! Curvou a cabeça, fechou os olhos e deu o seu último suspiro!

O tempo mudou, o chão tremeu! Eu nunca tinha visto algo parecido antes.

Naquele momento, uma forte convicção veio ao meu coração. Aquele não era um homem comum, não era um assassino, não era alguém culpado de algum crime. Eu olhei para ele cravado naquele madeiro, naquela cruz e as únicas palavras que saíram dos meus lábios foram:

VERDADEIRAMENTE ESTE É O FILHO DE DEUS.

Eu sou aquele centurião que participou de todos os momentos, lado a lado com aquele homem. Eu conheci de perto o Filho de Deus!

Centurião Romano

Nenhum comentário:

Postar um comentário