segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A GENTE NÃO PRECISA ESPERAR A AFLIÇÃO PARA BUSCAR A DEUS


É muito interessante ouvirmos depoimentos de pessoas que passaram por momentos difíceis. Após o trauma e todas as lutas, alguns declaram coisas do tipo: “Nunca mais serei o mesmo”; “Acordei para a realidade da vida”; “Foi a pior coisa que me aconteceu, mas foi a melhor coisa para que eu pudesse mudar”.

É muito comum ver pessoas buscando a Deus no meio da angústia. Não foi diferente com o profeta Jonas (Jonas 2) ao ser lançado no mar pelos marinheiros do barco que se encaminhava a Társis. Ele relata na oração que faz dentro do peixe tudo o que sentiu naquele momento e como se voltou novamente para Deus.

Jonas sabia que tudo aquilo era por causa da sua desobediência. Ele bem sabia que estava no lugar errado e na direção errada. Fantástico é ver no texto o meio preparado por Deus para restaurar Jonas. Que tipo de peixe foi aquele não é relevante. O relevante do texto é o milagre de Deus em providenciar um meio de restaurar a vida de um servo seu. Durante três dias e três noites ele ficou naquele lugar, no ventre do peixe.

O ventre do peixe foi para Jonas um local de confinamento, apertado e restrito, oposto a tudo o que ele imaginava e almejava; um local escuro, fétido e úmido.

Deus providenciou um lugar recluso para que Jonas pudesse retomar a sua caminhada com ele. Foi no ventre do peixe que Jonas trabalhou o desenvolvimento espiritual da sua vida. Foi ali que ele foi conduzido de volta à oração. Ali Jonas olhou para Deus novamente, percebeu o seu cuidado e livramento e entendeu que o Senhor é o único que pode salvar. Ali ele finalmente percebeu o quanto era pequeno e como Deus era tão grande.

A oração de Jonas no Ventre do Peixe é muito interessante. Jonas relata o que experimentou ao ser lançado ao mar, mas eleva a Deus uma oração de louvor e exaltação. "A oração na vida de Jonas é despertada por sua situação, mas não se reduz a ela. Sua oração o levou a um mundo muito maior que a situação imediata. A sua oração, apesar de ter sido influenciada pelas circunstâncias, não se prendeu às mesmas com lamentos e desolação. Jonas resolveu louvar a Deus". É uma oração que externa os frutos do seu aprendizado na caminhada com Deus.Jonas orou partes dos salmos.

Ficar trancado, livre de distrações e buscar a face de Deus traz crescimento sem igual na nossa carreira cristã. Deus salvou Jonas e o “trancou” no ventre do peixe.

O valor dessa experiência é tão grande que Jesus compara a sua experiência com a de Jonas. Em Mateus 12:40 ele diz: Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra.

Jesus sabia da necessidade de passar pela morte (veja João 12.24 Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto) para que pudesse retornar ressurreto e em glória, vitorioso eternamente.

A experiência de Jonas simboliza uma morte temporária em vida. Jesus utiliza a expressão mostrando figuradamente que Jonas foi levantado dos mortos para exercer a obra para a qual Deus o chamara.

Momentos semelhantes ao “ventre do peixe” nos confinam, nos prendem e nos levam a repensar a vida.

Que tal escolher o ventre do peixe? Parece uma pergunta absurda, pois o que vem à nossa mente é a ideia de sair catando um momento de aflição. Não estou pensando na aflição. A aflição de Jonas não foi “no” ventre do peixe, mas no mar. O vente do peixe foi um lugar de confinamento. Todas as vezes que experimentamos um momento de reclusão, livre das distrações, como uma espécie de santuário e lá praticamos a oração aleatória e baseada nos salmos, estamos a caminho do crescimento espiritual e focaremos na nossa missão aqui na terra. É duro admitir, mas preferimos a largueza e o barulho ao invés do silêncio e confinamento.

Não há como crescer em Deus sem duas práticas essenciais:

A primeira, confinamento diário – tempo a sós com Deus para oração e estudo da sua Palavra. Quando estamos no confinamento encontramos a concentração. Quando estamos num lugar apertado vemos a ilusão indo embora e a esperança surgindo. Quando estamos num lugar “escuro, úmido e fétido” vemos a morte sendo transformada em ressurreição. “A oração é nossa atividade mais fundamental. A vida de oração, a prática de oração, está no centro da atividade humana. Precisamos parar de tratar a oração como um ato cerimonial e entender que oração é vida”;

A segunda, a adoração comunitária – participação dos momentos comunitários de adoração. Discordando veementemente dos adeptos do culto a sós apenas, posso ver na oração de Jonas o momento a sós, mas o anseio pelo momento congregacional: ...tornarei, porventura, a ver o teu santo templo?; ...subiu a ti a minha oração, no teu santo templo; ...Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Jonas sabia da importância de estar com o povo de Deus adorando ao Senhor.

A gente pode simplificar as coisas e começar a crescer hoje mesmo. É só ouvir a Palavra de Jesus “entra no quarto, tranca a porta e ajoelha...”. A quietude nos livra das distrações e nos leva a Deus.

Não precisamos esperar que venham dias difíceis para buscar um crescimento diário diante de Deus. Deus precisou trancar Jonas no ventre do peixe para que ele pudesse repensar a sua vida e retomar a sua caminhada como servo de Deus. Até agora, Jonas tinha se apresentado de costas para Deus, pois ia numa direção oposta, deitado no porão de um barco como se não tivesse nada para fazer. Deus o salvou, colocou num lugar fechado durante três dias e três noites e ele recuperou o louvor, a adoração e o desejo se servir ao Senhor novamente.

Não espere um “afogamento”. Comece a crescer hoje mesmo. Simplifique!

Boa semana

Ricardo


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

E AÍ? VAMOS COMPRAR UMA PASSAGEM PARA TÁRSIS?


É assim que se inicia a jornada de um dos profetas mais intrigantes da Bíblia, Jonas. Para quem lê o livro percebe que a história no início é bem convencional. A expressão veio a Palavra do Senhor a mostra uma comunicação de Deus a um profeta. Isso acontece em diversas partes da Bíblia.

Jonas viveu nos dias de Jerobão II, rei de Israel. Provavelmente Oséias e Amós eram contemporâneos. Amós já havia sinalizado a intenção da Assíria em destruir Israel (Am 7:10). Nínive era a capital da Assíria. Jonas foi convocado a pregar contra os pecados dessa cidade. Deus pediu a Jonas disposição. Jonas respondeu com disposição, mas para fugir da presença de Deus.

Quando li esse texto perguntei a mim mesmo: Quantas vezes já fiz isso? Quantas vezes ouvi uma ordem clara de Deus e rejeitei essa ordem? Quantas vezes comprei uma passagem para Társis. Objetivo de Jonas: Fugir da presença do Senhor.

O que chama atenção no texto é o que diz o verso 3: “Para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor”. Mas por que alguém fugiria da presença do Senhor? “Presença” em hebraico significa literalmente “face”, uma metáfora carregada de experiências complexas e íntimas. “A face é a nossa primeira visão. Adquirimos confiança e afeto (ou, em alguns casos terríveis, rejeição e maus tratos) através da face”. O salmista nos ensina no Salmo 139:7-10 Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá.

Como interpretar essa frase? Ir para Társis e fugir da presença do Senhor? Na prática consigo enxergar isso nas minhas atitudes. Vejo-me comprando passagem para Társis em alguns momentos da minha vida.

1. Társis é o anúncio enfático da minha relutância em obedecer a Deus.

A viagem de Jonas até Társis é iniciada com a Palavra de Deus. Ele não apenas ignora a palavra e continua na mesma vidinha de sempre. Ele escolhe o seu destino: Társis. Jonas simplesmente decide não obedecer a Deus.

Tenho feito isso inúmeras vezes. Reluto em obedecer ao comando de Deus. Obediência é submissão à autoridade, fazer o que é ordenado, cumprir o que se exige ou abster-se o que é proibido. Não existe substituto para a obediência nem é possível ter o favor de Deus sem ela. Como Samuel disse ao Rei Saul: “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros”. 1Sm 15:22. Deixar de obedecer é rejeitar a palavra de Deus, é demonstrar que a pessoa realmente não crê, não confia, nem tem fé nessa palavra e em sua Fonte. Quem deixa de obedecer não difere de quem pratica a adivinhação ou utiliza ídolos. 1Sm 15:23 Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.

Não adiante expressar com os meus lábios obediência se na prática ela não acontece. Jesus contou uma história em Mt 21:28-31: E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.

2. Társis define o meu interesse em comandar a minha própria vida

Por mais incoerente que pareça, existe um motivo. “Uma coisa curiosa acontece quando experimentamos Deus. A experiência do Éden se repete nas nossas vidas. A experiência com Deus – o êxtase, a totalidade dele – é acompanhada por uma tentação de reproduzir a experiência como Deus. O gosto por Deus torna-se numa ambição de tornar-se Deus”.

Eu fujo da face de Deus para controlar a minha vida e tomar as decisões por conta própria. Eu fujo da face de Deus para que o meu orgulho e a minha vontade prevaleçam. Eu gosto de estar no comando. Por que não fazer as coisas do meu jeito? Por que tem que ser de outro jeito?

3. Társis é a apropriação de uma falsa espiritualidade

Para Jonas a sua atitude era senso de justiça aguçado. Nínive tinha que pagar pelos seus pecados. No caso de Nínive não cabia o perdão do Senhor. Nós assumimos com muita facilidade a posição de juiz em situações que surgem na nossa vida. Como é fácil julgar as pessoas. Como é fácil enxergar em nós uma espiritualidade que os demais jamais alcançarão. Eu fujo da face de Deus, vou para Társis e assim entro em pecados anteriormente não vivenciados. Pecados de origem carnal são claros e fáceis de serem percebidos. Pecados espirituais não são discernidos facilmente. É muito difícil diagnosticar. “Não conseguimos saber se o que experimentamos é obediência enérgica ou presunção humana. Se manifestamos uma santa ousadia inspirada pelo Espírito Santo ou temos em nós uma arrogância alimentada por um ego ansioso.Se temos uma fé confiante ou auto-exaltação. Em nenhum outro lugar o engano é mais comum do que na religião”.

Todas as vezes que assumo uma espiritualidade moldada nos meus conceitos pessoais, compro uma passagem para Társis. Não sei se o mesmo acontece com você, mas já me vi em algumas ocasiões dando respostas espirituais para justificar as minhas atitudes de desobediência.

4. Társis é a busca por uma vida mais empolgante

Por que Társis? Porque ela é bem mais empolgante e interessante do que Nínive. “Nínive era um lugar antigo com camada após camada de história arruinada e infeliz. Ir para Nínive para pregar não era uma missão cobiçada por um profeta hebreu com boas recomendações. Társis era outra coisa. Társis era um lugar exótico, uma aventura. Tinha o encanto desconhecido enfeitado com detalhes barrocos de fantasia e imaginação. Nas referências bíblicas, Társis era ‘um porto distante e às vezes idealizado’”.

1 Rs 10:22 relata que a frota de Salomão ia a Társis para pegar ouro, prata, marfim, macacos e pavões. Társis era o paraíso distante. Muitos perderam a graça pela comunhão com o Pai. Vida com Deus, intimidade com o Senhor se tornaram enfadonhos.

Eu sempre compro uma passagem para Társis:

Quando vivo a minha vida aqui na terra servindo a mim mesmo, deixando de servir e obedecer à voz do Senhor.

Quando traço os meus planos pessoais sem a participação de Deus.

Quando crio a minha própria espiritualidade desconectada da espiritualidade apresentada por Deus em Sua Palavra.

Quando considero o chamado e a vocação de Deus enfadonhos e tudo mais me alegra, menos servir e obedecer ao Senhor.

Esse texto me envergonha porque vejo em Jonas a minha própria vida. Esse texto me encoraja, porque vejo em Jonas a coragem de expor o seu pecado. Esse texto fala comigo e me ensina que é bem mais simples e mais fácil obedecer a voz de Deus.

Boa semana

Ricardo

* Os comentários destacados entre aspas e em itálico são de Eugene Peterson